E se quando ingeríssemos alimentos light ou diet com adoçante, na intenção de ingerir menos calorias e manter ou perder peso, estivéssemos na verdade a aumentar o desejo por alimentos doces?

Pesquisadores brasileiros e americanos verificaram, em estudos efectuados em ratos que a ingestão de adoçantes artificiais pode aumentar o apetite por alimentos doces.
Um intrigante contra senso.
Cientistas submeteram ratos a provas de comportamento nas quais usaram diferentes adoçantes e açúcares e observaram as respostas químicas dos seus cérebros como o sinal de recompensa. Quando aplicaram substâncias que interferiam na conversão de açúcar em energia, o interesse dos ratos pelos adoçantes artificiais diminuiu significativamente e, com isso, baixaram os níveis de dopamina no cérebro.
Ao dar aos ratos famintos, ou seja, com baixo nível de açúcar no sangue, a opção entre adoçantes artificiais e o açúcar, estes mostraram-se muito mais interessados no açúcar mesmo que o adoçante fosse mais doce que a solução açucarada.
Feijo et al publicaram em 2013 um estudo em ratos onde compararam o efeito da adição de sacarina, aspartame e sacarose (açúcar) a um iogurte. Verificaram que os ratos que ingeriram iogurte com sacarina ou aspartame (adoçantes artificiais) tiveram maior aumento de peso que o grupo da sacarose. Este facto deveu-se à ingestão de mais alimentos na refeição seguinte, de forma compensatória.
Como é este facto possível?
Quando ingerimos um alimento doce o nosso organismo inicia uma série de mecanismos para receber a energia dele proveniente como a secreção de enzimas, o aumento da taxa metabólica e a secreção de hormonas. O uso de glicose (açúcar) pelas células cerebrais induz a libertação de um neurotransmissor, a dopamina. Esta substância regula sensações de prazer e a formação de hábitos associados a comida como uma recompensa; ajuda também a melhorar o humor e a sensação de bem estar.

 

Os adoçantes artificiais não possuem a capacidade de estimular a produção de dopamina. A sua estimulação não está associada ao sabor doce, mas sim ao nutriente glicose (açúcar) que é utilizado pelas células cerebrais.
Assim, se o organismo é exposto repetidamente ao sabor doce desprovido de calorias (adoçantes artificiais) vai haver uma disrupção no mecanismo hormonal e metabólico o que pode levar à necessidade de ingerir alimentos calóricos e com açúcar posteriormente. A repetição deste ciclo pode causar alterações na sensação de saciedade e por isso mesmo, principalmente em situações de stress, ansiedade e privação alimentar, pode existir uma maior necessidade de ingerir alimentos doces e recompensadores.
Este ciclo faz com que indivíduos que estejam em processo de emagrecimento com dietas muito restritivas ou sem ingestão de açúcar durante muito tempo e que o substituam por adoçantes estejam mais susceptíveis de não ficarem satisfeitos com alimentos light ou diet e ingeriram posteriormente mais alimentos doces para se sentirem satisfeitos, acabando por ingerir um valor calórico maior.
A evidência em humanos que associem a ingestão de adoçantes e o aumento de peso é limitada. Contudo sabe-se que o efeito de saciedade provocado pela dopamina, não activado pelos adoçantes artificiais, pode provocar a necessidade de comer mais doces ou alimentos que produzam glicose. Por outro lado, o consumo de alimentos light ou sem açúcar é feito de forma abusiva ou superior a um alimento com açúcar devido à percepção dos indivíduos em pensarem que não irão ingerir calorias. No entanto, consomem mais quantidade, alteram os mecanismos cerebrais e ingerem mais gordura (presente em quantidade superior nos alimentos light).
Não é por os adoçantes apresentarem algumas controvérsias que devemos abdicar da sua ingestão e não controlar o consumo de açúcar. Importa lembrar que o consumo de açúcar está directamente relacionado com o aumento de incidência de doenças crónicas não transmissíveis como a Diabetes, a hipertensão arterial e a obesidade. No entanto a ingestão de adoçantes não deve ser excessiva em quantidade e número de vezes por dia.
O melhor amigo da nossa saúde é o equilíbrio.
Dicas de uma Dietista. Sabor com saúde.
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